Erros e consequências: “Wild” / “Into The Woods” / “The Judge”

Ronda Relâmpago 2

Wild

Classificação: 9/10

Nomeações: 2 (Melhor Atriz Principal, Melhor Atriz Secundária)

Mas que agradável surpresa que este filme foi. Aquilo que tinha o dúbio potencial para se tornar uma peça de pseudo-inspiração vazia de conteúdo é, na verdade, um conto de inquebrável e, por vezes, brutal honestidade – e um dos filmes do ano. Nick Hornby adapta de forma brilhante o livro autobiográfico de Cheryl Strayed, uma mulher norte-americana que, depois de uma série de eventos traumáticos na sua vida, decide fazer uma caminhada de mais de 1700 quilómetros, sem grande preparação ou noção dos potenciais perigos pela sua frente. Reese Witherspoon é absolutamente fenomenal no papel de Cheryl, uma mulher que assume os seus erros e procura, mais que esquecer os seus problemas, encará-los de frente e derrubá-los com a sua determinação. É uma performance de pura entrega, física e emocional, tanto nos momentos de superação física contra os elementos da natureza (desde o calor abrasador do deserto a nevões) como nos fugazes encontros com outras pessoas no seus caminho ou nos etéreos flashbacks da sua vida familiar e amorosa, recheada de desgostos e más decisões. Depois de levar dois dos seus atores a vitórias nos Óscares com “Dallas Buyers Club”, Jean-Marc Valleé arrecada aqui mais duas nomeações – para Witherspoon e uma delicada e frágil Laura Dern como a mãe de Cheryl. Mas o realizador canadiano faz mais que apenas um bom trabalho de direção de atores – este é um filme complexo mas nunca confuso, intercalando imagens belas mas devastadoras de isolação com uma série de flashbacks não-lineares que ajudam, lenta mas seguramente, a construir o quadro completo da viagem de Cheryl. E que viagem.

 

Into The Woods

Classificação: 7/10

Nomeações: 3 (Melhor Atriz Secundária, Melhor Direção Artística, Melhor Guarda-Roupa)

Há muito para gostar em “Into The Woods”. A adaptação do musical da Broadway inspirado nos contos dos Irmãos Grimm tem uma veia de humor irreverente inesperada – ou talvez não tanto, dado que o filme foi realizado por Rob Marshall, também responsável pela belíssima adaptação de “Chicago” ao grande ecrã. James Corden e Emily Blunt são uma parelha impossível de não gostar nos papéis principais e Meryl Streep domina todas as cenas em que entra, combinando uma voz possante com uma interpretação dramática das canções que nem sempre se vê no mundo por vezes demasiado estilizado do musical. E há uma dose considerável de momentos de viragem narrativa negros como carvão que muito poucos musicais têm coragem de assumir – muitos menos musicais inspirados em contos de fadas e produzidos pela Disney. Com todos estes pontos positivos, então porque sinto que este filme não resulta totalmente? Estranhamente, por causa das músicas. Sim, sei que parece quase herético dizer que o pior de um musical é o que é da responsabilidade de uma lenda como Stephen Sondheim, mas este filme usa e abusa de ‘reprises’, regressando insistentemente às mesmas músicas. E mesmo as que são diferentes, são muitas vezes indistinguíveis uma das outras. O que, num filme quase inteiramente cantado, se torna incrivelmente cansativo. Uma pena.

 

The Judge

Classificação: 7/10

Nomeações: 1 (Melhor Ator Secundário)

Por vezes vemos filmes que transcendem os seus constrangimentos, que encontram momentos de génio onde menos esperamos. “The Judge” é exatamente o contrário. É um filme que se vê muito bem, com momentos muito bem conseguidos, mas que se deixa cair numa espiral de clichés e melodrama que quase destrói o que tinha construído. Robert Downey Jr. encarna, com a facilidade expectável, o papel de um arrogante advogado da cidade, habituado a ser mais esperto que todos à sua volta, que se vê forçado a regressar à bucólica simplicidade da sua terra natal na ocasião do funeral da sua mãe. Vincent D’Onofrio é impressionante como o irmão reprimido que trabalha num stand de automóveis, depois de perder uma carreira como estrela de baseball de forma trágica. E Robert Duvall, nomeado para Melhor Ator Secundário, é imperial como o viúvo juiz com uma relação muito complicada com o seu filho advogado e um problema de saúde que o seu orgulho o força a esconder, mesmo depois de ser acusado de homicídio. Mas quando olhamos para além do talento dos seus atores, o filme não tem muito mais a oferecer. As cenas de tribunal só resultam de vez em quando e o drama familiar é constantemente elevado a um limite melodramático que parece só existir para fazer avançar a narrativa. Um caso, infelizmente comum, de potencial desperdiçado.

 

Pedro Quedas

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