Steve Jobs
Classificação: 8/10
Nomeações: 2 (Melhor Ator Principal, Melhor Atriz Secundária)
Que voltem para trás todos os que esperam aqui um “biopic” convencional. Não é. Não é assim que Aaron Sorkin funciona. Mais do que procurar a realidade factual de uma dada personagem histórica ou de um dado momento na sua vida, Sorkin almeja à sua realidade emocional. A estrutura narrativa de concentrar todas as conversas mais marcantes da vida de Steve Jobs nos minutos precedentes a cada um dos seus grandes eventos de lançamento de produtos da Apple (e não só) é brilhante – consegue guiar-nos numa viagem pela alma das personagens sem nunca se deixar “distrair” pelas suas realidades práticas. Michael Fassbender tem uma performance de grande coragem e contenção, mostrando um Jobs que passou tanto tempo a cultivar uma imagem tão endeusada da sua personalidade para o exterior que se esqueceu consistentemente de cultivar as suas relações interpessoais com a mesma dedicação. Já Kate Winslet é ainda melhor como Joanna Hoffman, a “número dois” de Jobs ao longo da sua carreira e, efetivamente, o seu “Grilo Falante” – a única pessoa capaz de dizer a verdade ao seu patrão e dar-lhe uns abanões regulares no seu pedestal. Danny Boyle guia com mão segura (e alguns rasgos de criatividade visual) um previsivelmente rico guião de Sorkin, pejado dos malabarismos verbais cómico-sérios que, hoje em dia, tendem a afastar os críticos mas que este que vos escreve continua a devorar com gosto. Se não dou melhor nota a este filme é, talvez, por se comparar levemente por baixo em relação aos melhores do ano. É um filme muito bom, mas sem grandes momentos de rasgo que eu sinta que vão ficar para a História. E o facto de eu estar aqui a tentar justificar a nota que dei a um filme do qual gostei tanto, só mostra como 2015 foi um belíssimo ano de cinema.
Trumbo
Classificação: 7/10
Nomeações: 1 (Melhor Ator Principal)
Se “Steve Jobs” se destaca do pelotão pelos seus diálogos dinâmicos e formas inovadoras de organizar a sua estrutura narrativa, “Trumbo” é um puro “biopic” com tudo a que temos direito. E esse talvez acabe por ser o seu ponto mais fraco. A história de Dalton Trumbo é cativante. O filme acompanha a vida do argumentista de Hollywood que, nos anos 50, se recusou a assumir como comunista perante o Congresso e foi preso, para depois regressar e ser forçado a trabalhar na clandestinidade, numa Hollywood também ela paralisada pelo medo e paranoia anticomunista. Trumbo era um homem singular, um membro pomposo das elites que se adorava ouvir falar, mas que não obstante estava disposto a sacrificar tudo na vida para lutar pelos mais fracos e sem apoio do Governo. É nesse equilíbrio entre preocupação genuína e eloquência shakespeariana que vive a interpretação que Bryan Cranston faz desta personagem – e é dos trabalhos mais inspirados que já o vi fazer no grande ecrã. “Trumbo” é um filme relativamente esquemático sobre um homem que viveu a sua vida a quebrar barreiras. É um conto inspirador sobre como é mais importante ainda manter a força das nossas convicções durante os momentos de sofrimento e desafio, que durante os momentos em que tudo corre bem. Nomes como Diane Lane, Louis CK ou Helen Mirren também dão tudo o que têm a esta história – e fazem-no admiravelmente –, mas este filme pertence a Cranston. O modo como este consegue transmitir o carisma natural de Trumbo sem nunca o degenerar numa caricatura é quase milagroso – e uma das mais interessantes performances entre os nomeados este ano. Uma performance muito interessante num filme agradável mas levemente banal.
Pedro Quedas