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Back to back: Pedro Silva renova o título no Oscar Challenge 2016

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Sempre que acharem que nada de bom vem por prestar atenção às curtas-metragens nomeadas aos Óscares, pensem no que aconteceu este ano e reconsiderem a vossa filosofia de vida. Com uma prestação impressionante nas categorias “menores”, acertando 2 em 3 nas curtas-metragens, Pedro Silva voltou a sair vencedor no Oscar Challenge do “Na Rota dos Óscares”, com 134 pontos em 170 possíveis.

A estratégia vencedora de Pedro Silva começou no topo, no entanto, dado que foi o único no top 5 deste ano a acertar na grande surpresa da noite oscariana – a vitória de “Spotlight” como Melhor Filme. O campeão acertou em 7 das 8 categorias principais, o que lhe deu uma excelente vantagem, espalhando-se depois em algumas das categorias intermédias. No entanto, a sua pontaria nas curtas deu-lhe a vitória. Para exemplificar, se as pontuações das curtas fossem retiradas da equação, Pedro Silva teria ficado em 4º lugar. Se, se, se.

Já Inês Moreira Santos, vencedora na edição inaugural do Oscar Challenge esteve muito perto de renovar o seu título, mas a decisão de escolher duas opções nas categorias de Documentário e Mistura de Som acabou por se revelar fatal. Os cinco pontos que “perdeu” nessas categorias, acabaram por ditar que ficasse “apenas” em 2º lugar, a um mero ponto do vencedor, com 133. O pódio é completado por Bernardo Fernandes e Carla Anes, que terão de partilhar o 3º lugar com 132 pontos cada, dado que apresentaram boletins quase exatamente iguais – até as curtas escolhidas foram as mesmas. Só diferiram no Óscar de Efeitos Visuais, com Bernardo Fernandes a escolher “Star Wars: The Force Awakens” e Carla Anes a ir para “Mad Max: Fury Road”. Com a vitória de “Ex Machina” nesta categoria, ambos erraram e ficou ditado o empate.

Em termos de estatísticas gerais, a incerteza que marcou este ano refletiu-se levemente nas pontuações gerais. Apesar de este ano o total possível ter subido de 168 para 170 pontos, a média geral manteve-se nos 95 pontos, registando-se no entanto uma quebra nas categorias acertadas por cada concorrente – descendo de 13 em 2015, para 12 este ano. Já na “guerra dos sexos”, os homens saíram este ano por cima. Apesar do top 5 contar com 3 mulheres para 2 homens, as médias gerais favoreceram os rapazes, com médias gerais de 97 pontos e 13 categorias acertadas – para apenas 91 pontos e 11 categorias no lado das mulheres.

Por fim, uma nota curiosa. Todos os anos há categorias marcadas pela incerteza mas raramente isso acontece no Melhor Filme. No entanto, este ano, apenas 9 dos 38 concorrentes previram a vitória de “Spotlight” no passado domingo. Em contraste, nem um dos participantes falhou na escolha de Leonardo DiCaprio como vencedor do Óscar de Melhor Ator Principal. Nem um urso com problemas de temperamento iria impedir DiCaprio de cumprir o seu destino.

 

Sem mais demoras, a lista completa deste Oscar Challenge 2016:

 

Oscar Challenge 2016

Rank Nome Pontos Categorias

Principais

1

Pedro Silva 134 17 7
2 Inês Moreira Santos 133 19

6

3a

Bernardo Fernandes 132 17 6
3b Carla Anes 132 17

6

5

Ana Figueiras 130 17 6
6 Pedro Quedas 128 16

6

7

Rebeca Venâncio 126 15 7
8 Guilherme Fonseca 126 16

6

9

André Simões 124 16 6
10 Tiago Gomes 122 15

6

11

Filipa Machado 118 14 6
12 Nuno Aguiar 114 15

5

13

Débora Cambé 112 16 4
14 José Mendes 108 14

5

15

Jaime Costa 106 13 5
16 Francisco Reis 100 13

5

17

Sérgio Marçal 96 13 4
18 Vera Monteiro 94 11

6

19

Tânia Espinheira 94 12 5
20 Zé Nuno Batista 92 11

5

21

Catarina Ribeiro 92 10 5
22 Isabel Pereira 90 12

4

23a

Carolina Vaz 88 10 5
23b Ricardo Marques 88 10

5

25

Fátima Casanova 84 11 3
26 Tatiana Albino 82 9

5

27

Marta Pessoa 82 12 3
28 Emanuel Serôdio 78 9

4

29

Nélia Silva 76 9 4
30 Sara Martins 74 9

4

31

Gonçalo Marcos 72 10 3
32 Ana Teresa 70 7

5

33

Pedro Neves 70 11 2
34 Laura Novo 65 9

3

35

Paulo Pereira 64 7 4
36 João Miranda 64 8

3

37

Pedro Duarte 62 8 3
38 Rui Costa 60 13

5

39

Manuela Simões 56 6 4
40 Ana Coelho 24 2

2

 

Pedro Quedas

 

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Grandes surpresas e grandes verdades: Mensagens fortes marcam noite dos Óscares

Balanço Óscares 2016

Alejandro G. Iñárritu fez história ontem à noite, juntando-se a nomes como John Ford e Joseph L. Mankiewicz como os únicos realizadores que conquistaram dois Óscares de Melhor Realizador em anos consecutivos. Por muito pouco não se colocou num pedestal só para si, se tivesse conquistado também o Melhor Filme – seria o único a ter conseguido esses dois prémios dois anos seguidos. Mas a Academia decidiu fazer uma leve finta a “The Revenant” e deu o Óscar de Melhor Filme ao excelente drama jornalístico “Spotlight”.

O filme de Tom McCarthy, que destacou a luta dos jornalistas do Boston Globe contra a corrupção e escândalos de pedofilia dentro da Igreja Católica, acabou por ganhar o Óscar mais cobiçado, com apenas mais outra vitória, em Melhor Argumento Original. O outro prémio de escrita, Melhor Argumento Adaptado, foi para “The Big Short”, o outro filme que estava indicado como um potencial vencedor no final e acabou por este “Óscar de consolação”.

Já nas categorias de performances, houve muito poucas surpresas. Leonardo DiCaprio conseguiu finalmente o seu Óscar (e foi mais que justo, por mais que seja divertido para alguns fingir que não foi), Brie Larson saiu no topo pelo seu belíssimo papel em “Room” e Alicia Vikander levou um Óscar para a equipa de “The Danish Girl”. A única (relativa) surpresa foi Mark Rylance (“Bridge of Spies”), que “retirou” o Óscar que se pensava estar destinado a Sylvester Stallone.

E, claro, “Mad Max: Fury Road” levou uma batelada de Óscares nas categorias técnicas e mesmo assim pareceu saber a pouco. Ainda assim, what a lovely day.

Por fim, não é possível falar destes Óscares sem falar do seu complexo e, sim, desconfortável tema. Primeiro que tudo, deve ser dito que Chris Rock foi incrível. Absolutamente incrível. Há muito tempo que não via um monólogo que conseguiu equilibrar de forma tão perfeita ter muita piada com ser muito, até dolorosamente, verdadeiro – “When your grandmother’s swinging from a tree, it’s really hard to care about Best Documentary Foreign Short”.

Ao longo do seu monólogo, Chris Rock foi apontando o mais essencial que devemos retirar do protesto #OscarSoWhite – que embora o protesto em si tenha os seus problemas, a sua mensagem inerente não pode ser ignorada. Os problemas? Que o modo como foi apresentado ao grande público fez parecer que o problema era a falta de nomeações especificamente – o que, neste ano, parecia um pouco despropositado. Francamente, não houve nenhum “escândalo”. Michael B. Jordan e Idris Elba podiam ter sido nomeados, certo, mas não é nenhum erro imperdoável não terem sido. Will Smith? Please… (leiam esta última palavra no pior sotaque nigeriano que conseguirem)

Mais do que estas não-nomeações, o grande problema é que, depois deles dois, quem mais estava na corrida? Com tantos atores e atrizes negras de enorme talento no mercado, por que raio só apareceram duas performances com genuínas hipóteses de competir por uma estatueta? Experimentem, se conseguirem, olhar para o slogan #OscarSoWhite de outra forma. E se eu vos disser que pode não ser necessariamente apenas um ataque aos membros da Academia pelos seus votos mas antes à indústria como um todo?

É aí que reside o problema. Obcecados com o seu “bottom line”, os estúdios continuam a ouvir a turba de atrasados mentais a entrar em histeria por haver um Stormtrooper negro e em vez de pensarem “talvez possamos tirar esta oportunidade para educar as pessoas e, quem sabe, ter um impacto positivo na sociedade”, regridem para as suas conchas cobardes e não hesitam em moldar os seus produtos aos piores instintos que a humanidade tem para oferecer. Atores e atrizes negras não deviam ser obrigados a fazer filmes importantes sobre o legado da cultura afro-americana para terem hipótese de ser elogiados. Só quando começarmos a ver uma proporção muito maior de homens e mulheres de cor nos nossos grandes ecrãs vamos começar a deixar de notar a cor dos nomeados.

O pior erro que podemos cometer é achar que já lá estamos.

Para os mais distraídos, fica aqui a lista completa dos vencedores:

Melhor Filme

 “Spotlight”

Melhor Realizador

Alejandro G. Iñárritu, “The Revenant”

Melhor Ator Principal

Leonardo DiCaprio, “The Revenant”

Melhor Atriz Principal

Brie Larson, “Room”

Melhor Ator Secundário

Mark Rylance, “Bridge of Spies”

Melhor Atriz Secundária

Alicia Vikander, “The Danish Girl”

Melhor Argumento Adaptado

Adam McKay e Charles Randolph, “The Big Short”

Melhor Argumento Original

Tom McCarthy e Josh Singer, “Spotlight”

Melhor Fotografia

“The Revenant”, Emmanuel Lubezki

Melhor Montagem

“Mad Max: Fury Road”, Margaret Sixel

Melhor Filme de Animação

“Inside Out”, Pete Docter e Ronnie Del Carmen

Melhor Filme Estrangeiro

“Son of Saul”, Hungary

Melhor Banda Sonora Original

“The Hateful Eight”, Ennio Morricone

Melhor Música Original

 “Writings on the Wall” de “Spectre”

Melhor Direção Artística

“Mad Max: Fury Road”

Melhor Guarda-Roupa

“Mad Max: Fury Road”

Melhor Caracterização

“Mad Max: Fury Road”

Melhor Documentário

“Amy”

Melhor Documentário, Curta-Metragem

“A Girl in the River”

Melhor Curta-Metragem, Animação

“Bear Story”

Melhor Curta-Metragem, Live Action

 “Stutterer”

Melhor Montagem de Som

“Mad Max: Fury Road”

Melhor Mistura de Som

“Mad Max: Fury Road”

Melhores Efeitos Visuais

“Ex-Machina”

 

Pedro Quedas

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E o Óscar vai para… – Previsões oficiais dos Óscares de 2016

Previsões Finais

Desde que comecei a fazer este desafio com os meus leitores que nunca tive tantas dúvidas quanto às minhas escolhas na categoria que mais interessa acertar – Melhor Filme. Como sempre, temos algumas categorias mais óbvias (*cough*DiCaprio*cough*) e outras que nos deixam com a cabeça a doer, mas é esse o prazer masoquista de tentar fazer estas previsões. Esta é uma noite em que antevejo “The Revenant” sair como o grande vencedor, mas com o mesmo número de Óscares de “Mad Max: Fury Road”. Seja como for, será uma noite com suspense até ao último segundo. Assim, a minha maior previsão é que as empresas portuguesas na próxima segunda-feira vão estar povoadas por um número inusitado de zombies com insónias. Sem mais demoras, as minhas previsões:

 

Melhor Filme

“The Big Short”

“Bridge of Spies”

“Brooklyn”

“Mad Max: Fury Road”

“The Martian”

“The Revenant” – As minhas previsões começam com, provavelmente, a corrida mais difícil de prever em toda a competição. “Spotlight” começou a “corrida” como o claro favorito – e conta com vitórias nos prémios dos argumentistas e, acima de tudo, o prémio de Melhor Elenco do sindicato dos atores (normalmente, um excelente indicador para Melhor Filme, dado que a classe mais representada dos membros da Academia são os atores). Depois temos “The Big Short”, que também foi premiado pelo seu argumento e foi o surpreendente vencedor do prémio do sindicato dos produtores, uma das melhores “bolas de cristal” para o grande prémio. E, no entanto, eu acho que, nesta corrida incrivelmente apertada a três, vai ganhar “The Revenant”. Durante toda a corrida hesitei em aceitar que a Academia iria premiar o mesmo realizador dois anos seguidos (algo que não acontece desde os anos 50 – se ganhar Melhor Filme e Melhor Realizador dois anos seguidos, Alejandro G. Iñárritu será o primeiro a fazê-lo), mas o “momentum” está todo do lado dele, depois de vitórias nos Golden Globes, nos BAFTA e, acima de tudo, depois de Iñárritu ter saído vencedor no duelo dos prémios dos realizadores. É a escolha mais difícil da noite, mas acredito que se vai fazer história nestes Óscares.

“Room”

“Spotlight”

Melhor Realizador

Adam McKay, “The Big Short”

George Miller, “Mad Max: Fury Road”

Alejandro G. Iñárritu, “The Revenant” – Embora não possamos necessariamente dizer que esteja entregue, este prémio será um pouco mais fácil de prever. Apenas dois dos nomeados estão verdadeiramente na luta e um deles tem arrecadado todos os prémios relevantes a caminho dos Óscares. Seria muito interessante ver um veterano como George Miller ganhar a estatueta pelo seu inspirado trabalho num dos mais desconcertantes e originais filmes de pura ação das últimas décadas, mas não vejo outra pessoa a ganhar que não Alejandro G. Iñárritu. Mesmo com a “desvantagem” de alguns votantes poderem achar excessivo ele ganhar dois Óscares seguidos, o realizador mexicano é o claro favorito.

Lenny Abrahamson “Room”

Tom McCarthy, “Spotlight”

Melhor Ator Principal

Bryan Cranston, “Trumbo”

Matt Damon, “The Martian”

Leonardo DiCaprio, “The Revenant” – Antes de voltarmos às dores de cabeça, vamos fazer uma pequena pausa para atribuirmos alguns dos prémios mais óbvios da noite. Leonardo DiCaprio vai ganhar o Óscar. Vou repetir, para que fique bem claro. Leonardo DiCaprio vai ganhar o Óscar. Está entregue. Principalmente num ano em que a concorrência não está especialmente feroz. A haver alguma surpresa, eu colocaria o meu dinheiro em Matt Damon, mas não vai haver nenhuma surpresa. Leonardo DiCaprio vai ganhar o Óscar. O único elemento de surpresa aqui será a quem vai agradecer no discurso.

Michael Fassbender, “Steve Jobs”

Eddie Redmayne, “The Danish Girl”

Melhor Atriz Principal

Cate Blanchett, “Carol”

Brie Larson, “Room” – Embora a narrativa de “finalmente vamos poder-lhe dar o Óscar que tanto merece” não esteja tão presente aqui, também Brie Larson tem a passadeira vermelha estendida para o prémio. O seu papel central na principal surpresa do ano, o poderoso “Room”, tem sido premiado ao longo de toda a temporada “oscariana” e não há qualquer razão para achar que vai acontecer de outra forma. A possibilidade de haver uma surpresa nesta categoria é um pouco maior que na de Ator Principal, mas continua a ser minúscula. A acontecer, seria com Saoirse Ronan, mas não acredito, de todo, que vá acontecer.

Jennifer Lawrence, “Joy”

Charlotte Rampling, “45 Years”

Saoirse Ronan, “Brooklyn”

Melhor Ator Secundário

Christian Bale, “The Big Short”

Tom Hardy, “The Revenant”

Mark Ruffalo, “Spotlight”

Mark Rylance, “Bridge of Spies”

Sylvester Stallone, “Creed” – Nas categorias de atores e atrizes, nenhuma corrida é mais apertada que esta. Este ano torna-se ainda mais difícil de prever, dado que o sindicato dos atores premiou Idris Elba, em “Beasts of No Nation”. Assim, o que escolher? Tanto Mark Ruffalo como Mark Rylance têm óptimas possibilidades de roubar este prémio, mas estou em crer que a Academia não vai conseguir resistir a fechar o conto de fadas musculado que tem sido a vida e carreira de Sylvester Stallone com a chave de ouro de um Óscar. É essa a minha previsão mas, se querem ganhar um concurso de apostas com uma escolha meio fora e tentar acertar no “upset” na noite, esta é a categoria para arriscar.

Melhor Atriz Secundária

Jennifer Jason Leigh, “The Hateful Eight”

Rooney Mara, “Carol”

Rachel McAdams, “Spotlight”

Alicia Vikander, “The Danish Girl”Rooney Mara está ali à espreita para fazer uma surpresa. Kate Winslet era a favorita no início da “campanha” e conta com um Golden Globe e um BAFTA na sua sacola. Mas, principalmente após a sua vitória junto do sindicato dos atores, a grande favorita à vitória é Alicia Vikander. A atriz sueca, que também esteve em grande destaque este ano em “Ex Machina”, teve uma das performances mais vistosas dentro desta categoria e está claramente na liderança. O que é questionável é que o seu papel ou de Rooney Mara sejam “secundários”, mas as maquinações da indústria para chegar aos Óscares são todo um outro texto que poderia ser escrito.

Kate Winslet, “Steve Jobs”

Melhor Argumento Adaptado

Adam McKay e Charles Randolph, “The Big Short” – Esta é uma categoria onde não há falta de bons argumentos, mas antes falta de concorrentes credíveis à vitória. “The Big Short” chega a esta categoria com três grandes fatores que indicam o seu favoritismo. Primeiro, saiu vencedor nos prémios do sindicato dos argumentistas. Segundo, tem sido (justamente) elogiado pelo modo como conseguiu tornar as complexas maquinações financeiras que originaram a crise num texto dinâmico, fácil de compreender e até, a espaços, divertido. Por fim, se se confirmar a vitória de “The Revenant” como Melhor Filme, os membros da Academia deverão encarar esta estatueta como um bom prémio de consolação.

Nick Hornby, “Brooklyn”

Phyllis Nagy, “Carol”

Drew Goddard, “The Martian”

Emma Donoghue, “Room”

Melhor Argumento Original

Matt Charman, Joel & Ethan Coen, “Bridge of Spies”

Alex Garland, “Ex Machina”

Pete Docter, Meg LeFauve e Josh Cooley, “Inside Out”

Tom McCarthy e Josh Singer, “Spotlight” – Outro argumento que, sendo na mesma excelente, deverá ganhar mais como consolação pela derrota na estatueta mais cobiçada. O facto de ter ganho junto das premiações dos argumentistas cimenta ainda o seu estatuto de liderança nesta “corrida”. O maior concorrente que Tom McCarthy e Josh Singer vão, provavelmente, enfrentar será o brilhante texto do aclamado “Inside Out”, mas, dado que um filme de animação nunca saiu vencedor em qualquer categoria de Melhor Argumento, esta é uma hipótese muito, muito remota.

Andrea Berloff e Jonathan Herman, “Straight Outta Compton”

Melhor Fotografia

“Carol”, Ed Lachman

“The Hateful Eight”, Robert Richardson

“Mad Max: Fury Road”, John Seale

“The Revenant”, Emmanuel Lubezki

“Sicario”, Roger Deakins

Melhor Montagem

“The Big Short”, Hank Corwin

“Mad Max: Fury Road”, Margaret Sixel

“The Revenant”, Stephen Mirrione

“Spotlight”, Tom McArdle

“Star Wars: The Force Awakens”, Maryann Brandon e Mary Jo Markey

Melhor Filme de Animação

“Anomalisa”, Duke Johnson e Charlie Kaufman

“Boy And The World”, Alê Abreu

“Inside Out”, Pete Docter e Ronnie Del Carmen

“Shaun the Sheep”, Mark Burton e Richard Starzak

“When Marnie Was There”, Hiromasa Yonebayashi

Melhor Filme Estrangeiro

“Embrace of the Serpent”, Colombia

“Mustang”, France

“Son of Saul”, Hungary

“Theeb”, Jordan

“A War”, Denmark

Melhor Banda Sonora Original

“Bridge of Spies”, Thomas Newman

“Carol”, Carter Burwell

“The Hateful Eight”, Ennio Morricone

“Sicario”, Jóhann Jóhannsson

“Star Wars: The Force Awakens”, John Williams

Melhor Música Original

“Earned It” de “Fifty Shades of Grey”

“Til It Happens To You” de “The Hunting Ground”

“Writings on the Wall” de “Spectre”

“Manta Ray” de “Racing Extinction”

“Simple Song #3” de “Youth”

Melhor Direção Artística

“Bridge of Spies”

“The Danish Girl”

“Mad Max: Fury Road”

“The Martian”

“The Revenant”

Melhor Guarda-Roupa

“Carol”

“Cinderella”

“The Danish Girl”

“Mad Max: Fury Road”

“The Revenant”

Melhor Caracterização

“The 100-Year-Old Man Who Climbed out the Window and Disappeared”

“Mad Max: Fury Road”

“The Revenant”

Melhor Documentário

“Amy”

“Cartel Land”

“The Look of Silence”

“What Happened, Miss Simone?”

“Winter on Fire”

Melhor Documentário, Curta-Metragem

“Body Team 12”

“Chau Beyond the Lines”

“Claude Lanzmann”

“A Girl in the River”

“Last Day of Freedom”

Melhor Curta-Metragem, Animação

“Bear Story”

“Prologue”

“Sanjay’s Superteam”

“We Can’t Live Without Cosmos”

“World of Tomorrow”

Melhor Curta-Metragem, Live Action

“Ava Maria”

“Day One”

“Everything Will Be Okay”

“Shok”

“Stutterer”

Melhor Montagem de Som

“Mad Max: Fury Road”

“The Martian”

“The Revenant”

“Sicario”

“Star Wars: The Force Awakens”

Melhor Mistura de Som

“Bridge of Spies”

“Mad Max: Fury Road”

“The Martian”

“The Revenant”

“Star Wars: The Force Awakens”

Melhores Efeitos Visuais

“Ex-Machina”

“Mad Max: Fury Road”

“The Martian”

“The Revenant”

“Stars Wars: The Force Awakens”

 

PS: Não se esqueçam de fazer as vossas previsões de quem vai ganhar este ano e participar no Oscar Challenge 2016. Vejam o que têm de fazer clickando aqui.

 

Pedro Quedas

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Um estudo em abundância: Os melhores dos Óscares de 2016

Favoritos Pessoais

Talvez o diga todos os anos, mas esta fornada de filmes nomeados aos Óscares foi especialmente notável. Filmes de grande ambição e de pequenos momentos, performances bombásticas e subtis, textos intelectualmente notáveis e emocionalmente devastadores. Estive para me recusar a fazer escolhas em algumas destas categorias mas acabei por cumprir o meu “dever”. Reservo-me o direito de mudar de opinião de dia para dia. Sem mais demoras, segue a lista dos meus favoritos deste ano:

 

Melhor Filme – Spotlight: Este ano teve um pouco de tudo – e tudo excelente. Tivemos filmes “mainstream” a mostrar que o “mainstream” não tem de apelar ao denominador mais baixo. Tivemos épicos de enorme ambição visual e pequenos frescos do melhor e pior na condição humana. E, no topo da minha lista, um exemplo de como termos tão pouco “sexy” como economia e contenção podem confluir num clássico instantâneo e um dos filmes mais importantes dos últimos anos. Sem nunca se deixar cair na grandeza dos seus temas, “Spotlight” recorda-nos, numa era de desinformação e relativização dos factos, da importância da verdade. Tal como os jornalistas que tão bem representou, Tom McCarthy assume como a sua única missão revelar ao telespectador a verdade do que aconteceu em Boston no início do século. A sua arte está na sua ausência de pretensão e no modo como desaparece por trás da câmara e deixa a história falar por si. Num ano de grandes filmes, esta pequena grande obra ascendeu ao topo.

 

Melhor Realizador – George Miller, Mad Max Fury Road: Todos os realizadores nesta categoria foram responsáveis por filmes absolutamente incríveis. Não me canso de o repetir – este foi um ano fortíssimo para os Óscares. Assim, dou por mim a inclinar-me para “premiar” o realizador que mais imprimiu a sua visão no produto final. E, assim, a escolha óbvia é George Miller. “Mad Max Fury Road” tinha tudo para ser um filme fixe, mas foi o talento de Miller que o tornou um dos filmes de ação mais essenciais na história do género. Na sua mão, ficou provado que um blockbuster não tem de ser básico ou preso a fórmulas. A sua visão de “Mad Max” é estranha e idiossincrática, simultaneamente um filme “para gajos” e um manifesto feminista. Mais ninguém podia ter feito este filme. Mais ninguém tem este nível de criatividade. Mais ninguém merece mais um Óscar.

 

Melhor Ator Principal – Leonardo DiCaprio, The Revenant: De um lado, temos nomeados como Bryan Cranston (“Trumbo”) ou Matt Damon (“The Martian”), cujas performances são o produto de estrelas, fundadas em doses disparatadas de carisma. Do outro, os trabalhos camaleónicos de Michael Fassbender (“Steve Jobs”) e Eddie Redmayne (“The Danish Girl”). E depois temos Leonardo DiCaprio. O que podemos dizer acerca do seu papel em “The Revenant” que fique claro em texto? Como usar palavras para elogiar uma performance que não as usa? Não sei se será a melhor prestação da carreira deste incrível talento, mas é a mais visceral – a que melhor finta as nossas resistências e nos ataca o coração com a mesma ferocidade que certos animais selvagens. Este ano de cinema não seria o mesmo sem a insana entrega física e emocional de DiCaprio neste papel.

 

Melhor Atriz Principal – Brie Larson, Room: De todas as cinco nomeadas, apenas Jennifer Lawrence não está perto nesta “corrida à minha preferência”. Nomes consagrados como Cate Blanchett (“Carol”) ou Charlotte Rampling (“45 Years”) tiveram excelentes anos mas este ano foram as jovens promessas a cativar mais a minha atenção. As escolhas artísticas de Saiorse Ronan (“Brooklyn”) e Brie Larson (“Room”) são tão completamente diferentes, que nem me sinto especialmente bem a ter de escolher uma. Em última instância, acabo por gravitar para Larson, especialmente pela mágica química que estabelece em cena com o muito jovem Jacob Tremblay. Mais do que um “grande momento de Óscar”, o seu desempenho é uma coleção de pequenos momentos de emoções duras e reações subtis. Uma revelação a todos os níveis.

 

Melhor Ator Secundário – Mark Ruffalo, Spotlight: Num filme tão fundado na sua contenção emocional e na procura racional e objetiva da verdade, o Mike Rezendes de Mark Ruffalo é o rasgo de emoção que lhe dá mais sangue nas veias. Para além do trabalho impressionante de metamorfose física e comportamental, é no dinamismo emocional que a performance de Ruffalo se destaca. Mais um grande ano para um dos melhores atores de Hollywood, que acaba por ter a maior concorrência (no meu coração) por parte de um veterano do teatro inglês – o excelente e inescrutavelmente misterioso Mark Rylance, na sua encarnação do famoso espião russo de “Bridge of Spies”.

 

Melhor Atriz Secundária – Kate Winslet, Steve Jobs: Nada como o texto de Aaron Sorkin para criar essencialmente um “grilo falante” no contexto de um biopic sobre Steve Jobs. Kate Winslet agarra esse (potencialmente) ingrato mas essencial papel com unhas e dentes, navegando as supersónicas reviravoltas do texto “sorkiniano” com uma mestria que remonta ao carisma inqualificável das maiores estrelas da Era Dourada de Hollywood. Ainda hesitei em colocar o excelente desempenho de Alicia Vikander (“The Danish Girl”) neste lugar, mas foram as palavras (e olhares conhecedores) da Joanna Hoffman de Winslet as que mais me marcaram neste recheado ano de cinema.

 

Melhor Argumento Adaptado – Adam McKay e Charles Randolph, The Big Short: Mais do que ser apenas uma lista de escolhas de grande qualidade, esta categoria está recheada de argumentos ecléticos. Subtis e intensos, melancólicos e cómicos, estes textos percorrem todo o espectro da vida neste planeta (e até fora dele). Sendo que tenho de fazer uma escolha, acho que “The Big Short” foi o melhor deste ano, especialmente pelo modo criativo e dinâmico como conseguiram dar ritmo e interesse a uma história sobre a crise do “sub prime”. Adam McKay foi um dos nomes mais surpreendentes a aparecer nesta fornada de filmes nomeados e gostaria de vê-lo a ser premiado pela fascinante corda bamba de investimentos emocionais que conseguiu criar neste filme.

 

Melhor Argumento Original – Pete Docter, Meg LeFauve e Josh Cooley, Inside Out: Esta escolha é absolutamente demoníaca. Quando o brilhante argumento de “Spotlight” nem sequer entra nas minhas equações, sabemos que estamos perante algo de especial. O argumento de Alex Garland para “Ex Machina” é um dos mais brilhantes textos de especulação filosófica dos últimos anos da ficção científica. Em qualquer outro ano, seria o líder destacado nas minhas preferências. Mas como posso eu escolher outro filme que “Inside Out”? A minha maior tristeza nestes Óscares foi não ver “Inside Out” entre os nomeados a Melhor Filme e continua a ser o meu filme favorito do ano que passou. E uma das maiores razões é este fenomenal argumento, que consegue tão delicadamente materializar as impossivelmente complexas maquinações do cérebro de uma criança em crescimento. Este filme não me fez apenas rir e chorar – fez-me sentir. Um Óscar seria o mínimo agradecimento possível.

 

PS: Não se esqueçam de fazer as vossas previsões de quem vai ganhar este ano e participar no Oscar Challenge 2016. Vejam o que têm de fazer clickando aqui.

 

Pedro Quedas

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Quem vai sair no topo do Oscar Challenge 2016?

Oscar Challenge 2016

E aqui estamos mais uma vez – o “Oscar Challenge” do “Na Rota dos Óscares” está de volta. O objetivo? Simples – vocês fazem as previsões sobre quem vai ganhar em cada categoria, eu contabilizo os resultados após a cerimónia e anuncio o vencedor.

As regras são as seguintes:

1 – Vão reparar que cada categoria no boletim de voto tem uma pontuação associada. Isto acontece para privilegiar mais quem acerta em categorias como Melhor Filme ou Melhor Atriz do que quem acerta em Melhor Montagem de Som – sejam sinceros, vai ser sempre ser um pouco à sorte. O vencedor não é necessariamente quem acertou mais categorias mas antes quem acumulou mais pontos.

2 – Para votar, basta colocar uma cruz no quadrado imediatamente atrás no ficheiro excel com as categorias. Se quiserem, podem votar em dois dos nomeados mas, se acertarem num deles, só terão metade dos pontos disponíveis nessa categoria. A melhor estratégia é vossa para escolher.

3 – Em caso de empate, ganha quem acertou mais categorias na coluna da esquerda do boletim. Se o empate se mantiver, ganha quem acumulou mais pontos nessa coluna e, a seguir, se o miserável empate persistir, quem acertou mais categorias no total.

4 – Por fim, o procedimento para concorrer é simples. Basta fazer o download do boletim de voto, preencher o ficheiro com as vossas cruzinhas, guardar as vossas respostas e reenviá-lo para narotadososcares@gmail.com. Não se esqueçam de colocar o vosso nome ou no ficheiro ou no email, para eu saber a quem atribuo as pontuações devidas. O prazo limite de envio de respostas é até ao início da cerimónia dos Óscares, mas podem começar já a fazer os vossos palpites.

O download do boletim de voto em Excel pode ser feito aqui: Oscar Challenge 2016

Assim, agora está tudo nas vossas mãos. Façam as vossas escolhas e vejam se me conseguem bater nas vossas previsões. Tal como na corrida aos Óscares deste ano, o vencedor está totalmente em aberto.

Pedro Quedas

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Dúvidas, questões e indecisões

Update Corrida

Multiple question marks on paper

A pouco mais de uma semana de chegarmos ao momento pelo qual temos todos esperado, ocorre-me que já há algum tempo que não olho para o estado da corrida. Estou convicto que, passado este tempo todo, já teremos uma noção muito mais concreta de quem está na liderança para as tão desejadas estatuetas. E, depois de olhar para as minhas pesquisas, apercebo-me que… continua tudo incrivelmente no ar.

O Producers Guild of America Awards costumam ser um dos melhores presságios para percebermos quem será o vencedor na categoria de Melhor Filme. Portanto, com a vitória de “The Big Short” nesses prémios, deveremos ter aí o nosso favorito, certo? Bem, para termos a certeza, vamos ver quem ganhou o “Best Ensemble Cast” nos prémios do sindicatos dos atores, outro indicador que costuma estar quase sempre em sintonia com o Melhor Filme dos Óscares. E, nesses prémios, quem ganhou foi… “Spotlight”. Ok.

Para juntar a confusão, ainda temos “The Revenant”. Tenho sido sempre da opinião que tanto este filme como o seu realizador, Alejando G. Iñárritu, não terão grandes hipóteses este ano, dado que o mexicano ganhou no ano passado, com “Birdman”, e, a ganhar este ano, seria o primeiro realizador a ganhar dois anos consecutivos desde os tempos dos lendários John Ford e Joseph L. Mankiewicz. Mas, com vitórias nos Golden Globes, BAFTA e Directors Guild of America Awards, Iñárritu está claramente na corrida e é o favorito pelo menos na categoria de Melhor Realizador. O seu grande rival aí deverá ser George Miller, com “Mad Max: Fury Road”.

Já na categoria dos atores e atrizes, a coisa torna-se um pouco menos confusa – até certo ponto. Nas categorias “principais” é onde temos mais clareza de onde o voto se está a inclinar. Seria preciso uma das maiores reviravoltas de tendência de voto de sempre para impedir Leonardo DiCaprio (“The Revenant”) e Brie Larson (“Room”) de levarem para casa os Óscares de Melhor Ator Principal e Melhor Atriz Principal. Poucos Óscares estão tão “entregues” à chegada à cerimónia.

É nas performances secundárias que a coisa fica mais interessante. Para Melhor Atriz Secundária, a favorita é Alicia Vikander (“The Danish Girl”), principalmente depois da sua vitória nos Screen Actors Guild Awards. A sua grande rival continua a ser Kate Winslet com “Steve Jobs”, que saiu vencedora nos Golden Globes e nos BAFTA e era considerada a leve favorita no início da corrida, antes de Vikander começar a ter cada vez atenção pelo seu papel.

E o que dizer acerca do Óscar de Melhor Ator Secundário? Primeiro, que o vencedor nos prémios do sindicato dos atores não significa nada, dado que três dos cinco nomeados nesses prémios eram diferentes dos nomeados para os Óscares – e o vencedor acabou por ser um deles, com Idris Elba (“Beast of No Nation”) a sair no topo. Olhando para os Óscares, o favorito emocional é Sylvester Stallone, mas esta categoria tem muita e boa competição. Mark Rylance (“Bridge of Spies”) e Mark Ruffalo (“Spotlight”) são considerados os principais concorrentes mas, francamente, tanto Christian Bale (“The Big Short”) como Tom Hardy (se a noite começar a pender para o lado de “The Revenant”) podem perfeitamente ganhar. Mais do que qualquer outra “corrida oscariana” de que tenho memória, este prémio está completamente no ar.

 

Pedro Quedas

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Tiros certeiros e tiros no pé: “Joy” / “Straight Outta Compton” / “45 Years”

Joy + Straight Outta Compton + 45 Years

Joy

Classificação: 6/10

Nomeações: 1 (Melhor Atriz Principal)

O que temos aqui é um filme que parece determinado a dar um tiro no pé a cada esquina que contorna. David O. Russell é um realizador polarizador – e eu tendo a estar no seu canto, mas não sei bem o que dizer do que vi aqui. A história de Joy Mangano, inventora norte-americana que esteve na origem da ascensão das vendas por televisão, até podia ter dado um filme interessante, mas não desta forma. Sempre que o filme parece estar a entrar no rumo certo, deixa-se cair num pântano de clichés. Apenas o comportamento deplorável da família de Joy parece fugir ao estereótipo deste género de filme, mas acaba por ser um estereótipo diferente, “normal” nos filmes de David O. Russell. Adicionalmente, a narração colocada à força por cima da história vangloriando a protagonista é tão despropositada que, a espaços, parece uma paródia de si mesma. A única razão porque este filme não é pior é devido ao carisma de Jennifer Lawrence. Mesmo em cenas que têm tudo para resvalar para a desgraça, a presença magnética de Lawrence faz com que resultem. É tão inegável o seu talento quanto o facto de ser quase totalmente desperdiçado neste filme.

 

Straight Outta Compton

Classificação: 8/10

Nomeações: 1 (Melhor Argumento Original)

Mais do que qualquer outra coisa, “Straight Outta Compton” é um triunfo de casting. Não só os atores escolhidos para interpretar os vários membros do lendário coletivo de hip hop NWA são muito parecidos com eles fisicamente, como acabam por ter quase todos interpretações muito fortes e carismáticas. Jason Mitchell tem o papel mais complexo como Eazy-E, mas é impecavelmente acompanhado por Corey Hawkins, que apresenta-nos um Dr. Dre simultaneamente excitado pelo sucesso meteórico que está a ter e assustado com o estilo de vida dos seus parceiros musicais pós-NWA que o rodeiam, especialmente o tenebroso Suge Knight. Mas o destaque maior terá de ir para O’Shea Jackson Jr., carismático no modo como encarna a personalidade explosiva de Ice Cube – ou não fosse ele o seu filho. Para além do casting, o filme é bom. Não é incrível, mas é bom. Acima de tudo, merece o crédito por não fugir a algumas das mais duras realidades da ascensão dos NWA no mundo do rap – ainda que branqueie algumas também, principalmente nos momentos finais do filme. Os ingredientes estavam aqui para ser um excelente filme – bom terá de chegar.

 

45 Years

Classificação: 7/10

Nomeações: 1 (Melhor Atriz Principal)

O que fazer quando as fundações de um casamento de 45 anos começam a ruir com uma simples revelação? Mais, o que fazer quando nos apercebemos que as fundações já estavam a ruir há muito tempo – ou talvez nunca lá tenham estado? Só uma atriz com a experiência e talento de Charlotte Rampling conseguiria dar corpo e vida a uma emoção tão complexa e difícil de exteriorizar. O modo como o faz é uma das melhores partes deste “45 Years”, o novo filme de Andrew Haigh, também responsável pelo muito interessante “Weekend”. A evolução do comportamento entre Kate (Rampling) e Geoff (Tom Courtenay) é a espinha dorsal de um filme que vai, subtilmente, revelando surpresas completamente devastadoras. A pior coisa que podia ter acontecido a este filme seria ter descambado totalmente para o melodrama e degenerar num festival de berros e acusações, mas penso que acabou por se desnivelar demasiado para o outro lado. Há uma linha que separa o subtil do impenetrável e “45 Years” salta à corda com essa linha. Ainda assim, o desempenho de Charlotte Rampling é imperdível e um dos momentos altos do ano “oscariano”.

 

Pedro Quedas

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Legados: “The Hateful Eight” / “Creed”

The Hateful Eight + Creed

The Hateful Eight

Classificação: 8/10

Nomeações: 3 (Melhor Atriz Secundária, Melhor Fotografia, Melhor Banda Sonora)

Será justo penalizar um filme por não se comparar tão favoravelmente com a restante filmografia de um realizador que tem sido consistentemente brilhante? É esse o dilema com que me deparei quanto terminei o novo filme de Quentin Tarantino. Há muita coisa deliciosa em “The Hateful Eight”. O argumento está apimentado com muitas das reviravoltas narrativas e piruetas textuais  que Tarantino tão bem esgrima. Nem todos os atores estão igualmente bem, mas Jennifer Jason Leigh, Walton Goggins e o omnipresente Samuel L. Jackson roubam algumas cenas com pura entrega e presença no ecrã. E a banda sonora, composta pelo lendário Ennio Morricone, é pura e simplesmente brilhante. Como é costume, as partes individuais de um filme de Tarantino são melhores e mais entusiasmantes que quase todo o restante cinema que se vê por aí. O que falta é a cola que os faz todos resultar. Está aqui a habitual criatividade visual e o deleite quase infantil com que o realizador encena momentos da mais imprevisível violência, mas tudo parece, desta feita, um pouco mais superficial. Um pouco mais sem sentido. Pode ser uma espiral interminável tentar forçar sentidos ou alegorias num filme de Tarantino. São obras que devem ser experienciadas, não apenas vistas. Mas este parece saber a pouco. É difícil especificar exatamente o que falha aqui, do mesmo modo que será difícil explicar a diferença entre beijar alguém de quem se gosta e alguém de quem se ama. Gostei deste filme. Estava à espera de o amar.

 

Creed

Classificação: 8/10

Nomeações: 1 (Melhor Ator Secundário)

“Rocky” começou como uma história de superação pessoal. Mais do que apenas um filme sobre boxe, era um conto de fadas moderno sobre como nenhum sonho é impossível de alcançar. Era um excelente filme, um clássico moderno. Depois vieram as sequelas. Algumas perfeitamente banais, outras incrivelmente divertidas, mas nenhuma delas com o mesmo espírito do original. Até que chegou este “Creed”. Michael B. Jordan é muito bom no papel do filho de Apollo Creed, o eterno rival e amigo de Rocky Balboa, e volta a entregar uma nova vida e determinação a um papel que tão facilmente podia ter caído no cliché. O realizador Ryan Coogler também merece grande parte do crédito pelo modo como se entregou a este projeto com o carinho de quem está a conversar com um amigo de infância com o qual nunca se perdeu o contacto – talvez a única crítica que se pode apontar a este filme é que, por vezes, esse tom de homenagem acaba por se tornar tão reverencial que torna a narrativa um pouco previsível. A ambição criativa nas cenas de combate acaba por nos fazer esquecer desses detalhes e envolver-nos no epicentro da pirotecnia visual e emocional em cada luta. Mas a grande nota de destaque que tenho de guardar para o fim é o impressionante desempenho de Sylvester Stallone como um (quase) acabado Rocky Balboa. Talvez inspirado pelo regresso a material que lhe é tão familiar, Stallone puxa de reservas emocionais que há muito tempo não explorava e prende-nos em cada frame em que aparece. Momentos que poderiam xaroposos em filmes (ou atores) menores, tornam-se profundamente sentidos e emocionais e deixaram este crítico completamente pregado ao ecrã. Uma das boas surpresas deste ano de cinema.

 

Pedro Quedas

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A luz na escuridão: “Room”

Room

Classificação: 9/10

Nomeações: 4 (Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Atriz Principal, Melhor Argumento Adaptado)

 

Por entre as frechas entreabertas do maior negrume que este mundo nos tem para oferecer, nascem por vezes momentos da mais pura beleza. Momentos de humanidade tão forte e genuína que iluminam o breu com uma intensidade maior que qualquer sol. “Room” é uma carta de amor à inesperada força da condição humana.

A invulgar beleza deste filme nasce da colaboração perfeita entre a criatividade visual do realizador Lenny Abrahamson e o puro impacto visceral do argumento de Emma Donoghue, adaptado da sua própria obra. É um trabalho rico de emoção e contenção, um filme que explora um tipo de sofrimento tão intenso que é um pequeno milagre nunca ter degenerado num festival de berros e choro descontrolado. Assim, quando esses berros e choros eventualmente transbordam à superfície, têm muito mais impacto porque são reais. Este é um filme sobre pessoas reais, não figuras de cartão.

Como tem sido a nota dominante nos filmes “oscarizáveis” deste ano, muitas destas grandes ideias e a sua impecável execução técnica seriam irrelevantes se não fossem acompanhadas de interpretações memoráveis. Inspirado nos tragicamente reais casos de jovens raptadas e repetidamente violadas pelos seus captores, “Room” segue a história da fictícia “Ma” (Brie Larson), uma jovem que, depois de ter um filho com o seu captor, encarrega-se, ao longo de cinco anos, de tentar proteger o seu filho da realidade horrível em que vivem, fazendo-o acreditar que todo o mundo real está confinado ao quarto onde ambos vivem e do qual nunca podem sair.

O trabalho de Brie Larson neste filme é absolutamente incrível. A sua maior virtude está no quão reais são as emoções que expressa, mas há algo de mais profundo ainda a borbulhar aqui. A sua performance começa contida e cheia de força, como forma da mãe lidar com a mentira que vai construindo para o filho, mas vai lentamente tornando-se mais frágil e tensa, à medida que a sua situação vai mudando e a adaptação a uma nova realidade lhe derruba as barreiras que demorou tanto e doloroso tempo a erguer.

Brie Larson é a atriz nomeada a um Óscar neste filme, mas deve muito do sucesso do seu papel também à belíssima química que consegue ter com o pequeno gigante que interpreta o seu filho. Jacob Tremblay, do alto dos seus 8 anos, é uma revelação. Não apenas devido ao seu impecável domínio dos maneirismos e confusão emocional de uma criança a aperceber-se que toda a sua realidade é uma ficção, mas acima de tudo da relação que constrói com a sua mãe.

Amor verdadeiro é quase impossível de “fingir” no grande ecrã. A magia deste filme está no modo como Brie Larson e Jacob Tremblay o conseguem retratar sem uma única nota falsa, sem um único vestígio de teatralidade desadequada. Os temas por cima dos quais “Room” é construído são incrivelmente negros e deprimentes. Nas mãos destes dois jovens atores e da sua mágica relação, uma viagem ao inferno transforma-se numa celebração da vida.

 

Pedro Quedas

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Os desafios de ser mulher: “Carol” / “The Danish Girl”

Carol + The Danish Girl

Carol

Classificação: 7/10

Nomeações: 6 (Melhor Atriz Principal, Melhor Atriz Secundária, Melhor Argumento Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Guarda-Roupa, Melhor Banda Sonora)

O que é bom em “Carol” é muito bom. Desde a construção do ambiente nebuloso e intoxicante dos anos 50 ao modo como a banda sonora se entrelaça entre esse ambiente e a história de amor tortuoso que nele nasce. Acima de tudo, Cate Blanchett e Rooney Mara entregam-nos aqui duas performances ricas e complexas. O construir do seu amor, entre Carol, uma mulher mais velha e conhecedora dos compromissos da vida, e Therese, uma mulher mais nova e (até certo ponto) inocente, torna-se ainda mais interessante quando os papéis são, por momentos, de forma muito subtil, invertidos. É um ato de sedução contínua que navega por entre os becos escondidos de uma sociedade que não o consegue aceitar – ainda mais naquela altura. Com tudo isto a seu favor, “Carol” podia muito bem ter sido um dos melhores filmes do ano, mas acaba por se deixar cair na armadilha de uma das suas maiores virtudes. Com um tema tão potencialmente bombástico, é de louvar o esforço no sentido de não deixar a história cair no sensacionalismo e na exploração cínica dos preconceitos. Mas o problema é que, de tanto querer ser subtil, o filme torna-se, a espaços, aborrecido. Existem vários momentos durante o desenvolvimento da relação entre Carol e Therese em que o ritmo narrativo se torna tão deliberado que se arrasta e certas ações que são subtis nas suas primeiras ocorrências tornam-se redundantes na sua repetição. Não é difícil de compreender o poder que um filme como este pode ter para encantar um espetador, mas não posso negar que, quando o vi, senti-me por vezes desligado de toda a beleza (cénica e emocional) que passeava pelo ecrã.

 

The Danish Girl

Classificação: 7/10

Nomeações: 4 (Melhor Ator Principal, Melhor Atriz Secundária, Melhor Guarda-Roupa, Melhor Direção Artística)

Tenho de começar por dizer que o “hype” que este filme tem tido em relação aos seus atores é completamente justificado. São duas performances impressionantes, por razões completamente diferentes. Eddie Redmayne oferece-nos aqui um retrato de vulnerabilidade e contenção, de um homem que na verdade nunca se sentiu um homem e que parte numa viagem interna para assumir a sua verdadeira identidade de género. Já Alicia Vikander encarna uma mulher cheia de vida, com energia a transbordar-lhe pelos poros, que se vai tornando mais tensa e sorumbática à medida que vai tendo de lidar com as mudanças incontroláveis no seu marido. Ambos estão muito, muito bem. Realizado por Tom Hooper, “The Danish Girl” é adaptado do romance de David Ebershoff, livremente inspirado nas vidas reais do casal de pintores dinamarqueses do início do século XX, Lili Elbe (nascido Einar Wegener) e Gerda Wegener. O filme tem sido severamente criticado pelos desvios que faz em relação à realidade histórica mas, francamente, isso interessa-me muito pouco. Tanto o livro como o filme que dele nasceu nunca se assumem como tendo a pretensão de serem documentários (são, ambos, assumidamente ficcionais) e, como tal, é um pouco absurdo exigir-lhes algo mais que uma boa história. Dito isso, o grande pecado do filme não é tanto ter mudado eventos históricos mas antes aquilo para que mudaram. A obra, que começa muito bem, vai perdendo o rumo à medida que os temas se começam a tornar mais “espinhosos” e, nos últimos 5-10 minutos (que não vou revelar), cai numa espiral de sentimentalismo que, pura e simplesmente, não resulta. O potencial estava aqui para algo bem melhor, mas acaba por me deixar com a sensação de que vi uma oportunidade falhada.

 

Pedro Quedas

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